Morrer para ressuscitar
Morrer para ressuscitar: este é o mistério pascal que São Paulo exprimia afirmando a necessidade de passar da vida conforme a carne para a vida segundo o Espírito.
Esta transformação implica não só a remissão e o perdão do pecado, mas uma contínua transfiguração de toda a existência. Um penetrar sempre mais até as profundezas de nosso ser, para torná-lo sempre mais idôneo para esta plena e progressiva comunicação de amor que é Deus.
Na Igreja nesta terra essa purificação acontece por meio da caridade, da vida sacramental e litúrgica, pela ação caritativa e por meios que só Deus conhece. Na ascese cristã, a purificação através da mortificação ou sofrimento voluntário intencionalmente unidos à Paixão de Cristo sempre teve um lugar privilegiado.
Mas a doutrina cristã sempre ensinou que a purificação na vida presente, quase nunca poderá ser proporcionada à grandeza da futura comunicação divina. Por isso, no momento da morte e na vida depois da morte, o homem deve continuar a receber a purificação que ainda precisa, para poder ser membro daquela Igreja sem mancha nem rugas que Cristo quer apresentar ao Pai. A Igreja chama esta purificação depois da morte, de Purgatório.
Sobre a natureza e a duração desta purificação formaram-se as crenças populares e concepções figurativas muito imaginativas, sobretudo com o espetáculo de penas terríveis. A purificação depois da vida terrena só pode ser obra de amor, da parte de Deus e da parte do homem. Deus, para se doar ao homem de maneira total, remove todo obstáculo para dilatar a capacidade de acolhimento por parte do homem.
Com fundamento bíblico, a Igreja tem como artigo de fé que existe tal purificação. O que o Magistério autêntico formulou é muito sóbrio, porém: quem sai desta vida não completamente purificado, deve ser purificado no purgatório. Por outra parte, pelo intercâmbio vital da Comunhão dos Santos, cada fiel, e com eficácia a comunidade, tem um real poder de intervir junto de Deus com uma ajuda de sufrágio em favor dos defuntos. Para estes irmãos, a Igreja oferece os sufrágios, uma vez que há a comunicação de bens espirituais entre a Igreja Peregrina (nós) e a Igreja Padecente ou Purificante (Purgatório).
O Purgatório é a afirmação da dignidade do homem, garantia que na vida eterna ele não terá em si nada que ofusque, por pouco que seja, sua beleza e sua felicidade, porque terá atingido a perfeita inocência que o torna uma criatura sumamente amável a Deus infinitamente santo. Ao mesmo tempo é um aguilhão para o homem em sua caminhada para procurar, como os peregrinos em busca dos santuários, uma purificação que cresça de dia para dia, a fim de que seja manifestado ao Pai o amor que Jesus nos ensinou e comunicou, e que o Espírito reaviva com a Sua graça.
Editora Santuário, p. 448-449.
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